FNM – Fábrica Nacional de Margarina, S.A.R.L.
Situada na Estrada de Unhos junto ao rio Trancão desde 1976 manteve-se em produção até ao verão de 1995.
Com uma área superior a dois hectares afastada do centro urbano rapidamente foi invadida por sucateiros e vândalos que desmantelaram e destruíram muito do património desta unidade fabril.
Outros aproveitavam o pobre destino desta fábrica para efetuar despejos clandestinos, à data da minha visita a 31 de julho de 2014 deparei-me com um cenário apocalíptico, uma destruição tão violenta como aquelas que vemos nas notícias acerca de locais bombardeados, uma réplica de um cenário de guerra, ainda que felizmente nunca tenha presenciado uma!
A antiga unida fabril que empregou mais de duzentos funcionários e onde foram produzidas algumas das manteigas mais populares como a Fofa, Chefe, Serrana, Banquete e Pastora, além dos produtos específicos de pastelaria, com uma história de sucesso desde que foi pedido o seu registo a 1 de agosto de 1921 acabou por ter um fim triste.
Tentei visitar este local por diversas vezes sempre sem sorte e com o local vedado sempre recuei, talvez esta tenha sido a melhor oportunidade que me iria surgir e assim aproveitei.
Ao chegar de à entrada deparo-me com uma pessoa a encher diversos garrafões de água junto a uma das paredes, ao meter conversa ele diz-me que aquela água é boa, mas que muitos não sabem e que enquanto pode continua a vir aqui encher os seus garrafões, pensei que era algo de novo até que percebo que era um dos antigos operários desta fábrica.
Pergunto o que aconteceu ao que ele em jeito de encolher os ombros olha para o velho esqueleto pela primeira vez na nossa conversa.
- Deram cabo disto tudo, arrancaram tudo o que puderam levar e outros estragam por malvadez.
Aproveito para questionar sobre se será seguro entrar para tirar algumas fotografias, e digo-lhe que o meu pai também ali trabalhou.
- Lembra-se do Santos Dias? Eu sou filho dele.
- Então não me lembro do Zé, claro que me lembro, boa pessoa…
Volta as costas novamente à fábrica continuando a sua tarefa, agora com o rosto como que amargurado talvez lembrando algum momento do passado.
Despeço-me e sigo vagarosamente para o interior da fábrica.
Foi na FNM que o meu pai trabalhou não sei durante quantos anos, foram muitos desde que me lembre...
Tenho vagas recordações de algumas visitas com o meu pai. Uma das memórias impossível de descrever, era o cheiro característico que só conheci aqui, um cheio fresco e agradável, algo cuja falta senti de imediato ao chegar mais perto, por cima de alguns escombros por onde andava um grupo de cabras.
Recordo era eu muito pequeno de um ano em que aconteceram umas enormes cheias do Trancão, fiquei junto da minha mãe até altas horas da madrugada a ouvir chover e à espera de melhores notícias. O rio transbordou e a fábrica estava inundada. Os últimos dos trabalhadores, talvez os mais receosos de se aventurarem serra acima no meio de uma chuva infernal na escuridão e com o rio a subir cada vez mais tiveram de ser resgatados mais tarde de helicóptero, era muito tarde quando o meu pai apareceu totalmente encharcado com umas botas de borracha, em conjunto com alguns colegas subiram pela serra acima para escapar à inundação e de algum modo todos conseguiram chegar ao Catujal e Sacavém em segurança.
Consigo recordar algumas áreas da fábrica, não as consigo identificar em condições.
O meu pai já não viveu para ver a velha fábrica cair aos poucos e morrer ao abandono agora apenas explorada pelos jogadores de Airsoft.
Se alguém conseguir identificar as fotos agradeço que diga, só lembro do pequeno espaço interior que olhava sempre que ali ia, creio que tinha uma bananeira numa espécie de jardim interior e que se via creio que a caminho do refeitório.
Ficam algumas das fotos de um registo que para mim foi muito especial.
Situada na Estrada de Unhos junto ao rio Trancão desde 1976 manteve-se em produção até ao verão de 1995.
Com uma área superior a dois hectares afastada do centro urbano rapidamente foi invadida por sucateiros e vândalos que desmantelaram e destruíram muito do património desta unidade fabril.
Outros aproveitavam o pobre destino desta fábrica para efetuar despejos clandestinos, à data da minha visita a 31 de julho de 2014 deparei-me com um cenário apocalíptico, uma destruição tão violenta como aquelas que vemos nas notícias acerca de locais bombardeados, uma réplica de um cenário de guerra, ainda que felizmente nunca tenha presenciado uma!
A antiga unida fabril que empregou mais de duzentos funcionários e onde foram produzidas algumas das manteigas mais populares como a Fofa, Chefe, Serrana, Banquete e Pastora, além dos produtos específicos de pastelaria, com uma história de sucesso desde que foi pedido o seu registo a 1 de agosto de 1921 acabou por ter um fim triste.
Tentei visitar este local por diversas vezes sempre sem sorte e com o local vedado sempre recuei, talvez esta tenha sido a melhor oportunidade que me iria surgir e assim aproveitei.
Ao chegar de à entrada deparo-me com uma pessoa a encher diversos garrafões de água junto a uma das paredes, ao meter conversa ele diz-me que aquela água é boa, mas que muitos não sabem e que enquanto pode continua a vir aqui encher os seus garrafões, pensei que era algo de novo até que percebo que era um dos antigos operários desta fábrica.
Pergunto o que aconteceu ao que ele em jeito de encolher os ombros olha para o velho esqueleto pela primeira vez na nossa conversa.
- Deram cabo disto tudo, arrancaram tudo o que puderam levar e outros estragam por malvadez.
Aproveito para questionar sobre se será seguro entrar para tirar algumas fotografias, e digo-lhe que o meu pai também ali trabalhou.
- Lembra-se do Santos Dias? Eu sou filho dele.
- Então não me lembro do Zé, claro que me lembro, boa pessoa…
Volta as costas novamente à fábrica continuando a sua tarefa, agora com o rosto como que amargurado talvez lembrando algum momento do passado.
Despeço-me e sigo vagarosamente para o interior da fábrica.
Foi na FNM que o meu pai trabalhou não sei durante quantos anos, foram muitos desde que me lembre...
Tenho vagas recordações de algumas visitas com o meu pai. Uma das memórias impossível de descrever, era o cheiro característico que só conheci aqui, um cheio fresco e agradável, algo cuja falta senti de imediato ao chegar mais perto, por cima de alguns escombros por onde andava um grupo de cabras.
Recordo era eu muito pequeno de um ano em que aconteceram umas enormes cheias do Trancão, fiquei junto da minha mãe até altas horas da madrugada a ouvir chover e à espera de melhores notícias. O rio transbordou e a fábrica estava inundada. Os últimos dos trabalhadores, talvez os mais receosos de se aventurarem serra acima no meio de uma chuva infernal na escuridão e com o rio a subir cada vez mais tiveram de ser resgatados mais tarde de helicóptero, era muito tarde quando o meu pai apareceu totalmente encharcado com umas botas de borracha, em conjunto com alguns colegas subiram pela serra acima para escapar à inundação e de algum modo todos conseguiram chegar ao Catujal e Sacavém em segurança.
Consigo recordar algumas áreas da fábrica, não as consigo identificar em condições.
O meu pai já não viveu para ver a velha fábrica cair aos poucos e morrer ao abandono agora apenas explorada pelos jogadores de Airsoft.
Se alguém conseguir identificar as fotos agradeço que diga, só lembro do pequeno espaço interior que olhava sempre que ali ia, creio que tinha uma bananeira numa espécie de jardim interior e que se via creio que a caminho do refeitório.
Ficam algumas das fotos de um registo que para mim foi muito especial.
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